quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Fortaleza de Ilusões

Eu vejo teu vulto na mais alta torre de uma fortaleza enegrecida pelas sombras das ilusões humanas. A visão de uma pintura desfocada e sombria de épocas não vividas ou não contadas. Só me conforta poder ver tua face em meio a tantas sombras e saber que seus olhos são verdade em um mundo de mentiras; são vitória em meio a tantos vencidos e são espelhos refletindo meus mais profundos e obscuros desejos.

Fragmentos

Não quero mais ver a sua foto, aquela prisão amaçada guardada no fundo do meu bolso. Não quero mais. Por favor, que este labirinto de memórias e visões de uma outra vida desapareça para sempre da minha memória.

Boa Noite

Eu precisava daquele simples boa noite. Por mais tempo que ele tenha demorado, foi compensador. Eu me senti vivo ao ouvir aquela voz doce. Me senti realmente pronto para ter uma noite de sono e deixar de lado aqueles pensamentos que sempre atormentam a minha mente. Pensei em contar tudo isso à ela, mas achei melhor apenas dizer: - Boa noite para você também.

Olhos etéreos

Se em teus olhos, eu choro.
     Em teus braços, quebro.

Vou e deslizo até as nuvens,
     um mundo comprido azul sem fim.

Me olhas, por que estou apenas
     aqui em mim.

Semi-morta

Um vento branco e uma chuva de cores lá fora.
Folhas e flores caídas - cinzas demais.

O Alento dolente da velha
criava uma sinfonia turva e frenética.

Com olhos negros me afogava.
Era o choro escondido que eu sentia.

Vendia, vivia e eu ali. Estranho,
ela entendia minha demente ousadia.

Eu não vi que em meio a tantos livros,
pobre alma, nem ver conseguia.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Prisão

À mercê do encanto.
 Canta o grito,
    chora infinito,
       restos de ódio.
         E pranto.


O todo ali em mim...
 no mundo,
   cela
      Meu fim, profundo.
         Adeus.

Ser sem sentido

Nesta cidade fria, todos são sozinhos.
Andróides urbanos sentem,
sofrem e correm como loucos
a procura de uma gota de sentimento.

Este sentimento sintético,
anoréxico e cravado na alma.
Uma agulha no peito,
um mergulho no inferno.

Olho o apartamento, clausura.
Celas de um povo sem sentido
Nelas a vida não é vida
E ser perde o verbo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

(in)existência

Sabe aquela impressão de estar fora deste plano? Digamos assim, instantes onde a existência - acontecimentos normais do cotidiano - não lhe diz respeito. É como se a vida não fosse sua, você olhasse como se fosse a vida de outra pessoa que está passando diante dos seus olhos e "você" na verdade fosse um mero expectador que um instante depois se sente vivo, se sente aqui e se lembra que esta vida que passou diante dos seus olhos é sua.

Pensei muito sobre esta questão, a negação da existência, e acho que dois motivos podem levar a isso. Desde cedo as pessoas constroem sonhos, transform isso em metas e lutam para realizá-las. Mas é difícil achar alguém realizado realmente, alguém que seja a personificação dos seus sonhos. Esta desilusão acarreta possivelmente nesta negação existencial do "ser" humano.

Outro motivo seria a o fato de não conseguirmos nunca explicar a vida; os detalhes do mundo, os acasos e as possibilidades existenciais. É realmente impossível entender como estamos aqui, de onde viemos e para onde vamos. Tudo isso somado à teoria do caos e as infinitas realidades que poderiam existir resultam em um paradoxo existencial sem fim. Quem tenta sempre entender tudo, se decepciona ao descobrir que o mundo é inexplicável. Negar é mais fácil que existir.

Verdade

Seus olhos são verdade em um mundo de mentiras.

Poema in/verso

Vou de eco a eco,
ponto por ponto.

Tédio (in)consequente de palavras,
inverno aos (in)versos

Trago vírgulas da minha alma,
mas levo folhas ao outono.

Ecos

No fim das contas, conta que tudo morre.
E a vida, ida sem volta.

As estrelas sem brilho,
as flores sem morte.
O grito sem dor,
e as facas sem corte.

Por que a vida, ida,
da mais pura sorte.

domingo, 26 de agosto de 2007

interlocutor

semente semiótica
se semiótica(mente) sendo,

são pós-verdades (inter)mediadas
ilusões concretas de tédio.

O momento em que tudo mudou

Um segundo. Um milésimo. Talvez menos do que apenas a indivisível possibilidade de um mínimo lapso de tempo; talvez apenas um exagero meu. Uma vida longa para possibilidades tão ínfimas e ao mesmo tempo tão complexas em suas correlações. Não é apenas caos. Não é apenas tempo. É vontade de existir oposta ao ritmo de entendimento das fagulhas de processamento do raciocínio humano.